O Campo Arqueológico de Proença-a-Nova(CAPN) é um modelo misto de campo de trabalho, investigação e aprendizagem para alunos, preferencialmente dos ramos da arqueologia, da história e das arqueociências, que teve início em 2012 como Campo Arqueológico de Proença-a-Nova e que a partir de 2013 adquiriu um cariz internacional. O intuito destes campos é estudar, preservar e divulgar os sítios arqueológicos do concelho de Proença-a-Nova dando a conhecer um património que ainda é desconhecido de muitos.

Esta edição contemplou escavações em três sítios arqueológicos.

  • Campo 1: Bateria das Batarias (séculos XVIII e XIX) - 05-17 de julho;
  • Campo 2: Capela Velha do Peral (séculos XV a XVII) - 12-24 de julho;
  • Campo 3: Anta da Moita da Galinha - 19-31 de julho.

 

Para além dos campos arqueológicos, o CAPN também providenciou outras atividades lúdico-didáticas durante a estada, estando previsto:

  • Conferências - dias 15 (Guilherme Cardoso - CCVF) e 21 (Sara Garcês - Ródão/Barco);
  • Visita de estudo ao Centro Ciência Viva da Floresta, ao Cabeço da Anta e à Aldeia da Figueira;
  • Visita de estudo a Vila Velha de Ródão e Passeio de Barco - 21 de Julho;
  • Apresentação do livro "Proença-a-Nova. Arqueologia e Património" no dia 24;
  • Jantar em Ródão no Barco (Portas de Ródão - 21 de Julho);

Campo 1 - Bateria das Batarias (séculos XVIII e XIX)

 

A bateria de Batarias 2 situa-se na meia encosta, que se destaca da zona rural circundante, com vista para o rio Alvito, a uma altitude de 280m. Tem vista para a ponte de Alvito e controla a Estrada Real de Castelo Branco para a Sobreira Formosa, com uma vista ampla até ao horizonte em direção à cidade de Castelo Branco. A bateria das Batarias 2 e o forte de Batarias 1
faziam parte de uma estrutura defensiva destinada a impedir o progresso dos exércitos invasores que vinham ao longo da estrada pela Portela da Catraia, e consistia em várias estruturas estrategicamente posicionadas.

Após a conclusão do trabalho realizado em 2016, os dados obtidos revelaram uma estrutura bem construída de acordo com as técnicas de construção comuns para o período, com vestígios de utilização e duas fases de ocupação. A bateria de Batarias 2 está localizada a meio da encosta no ponto onde o gradiente subitamente se torna mais íngreme, a leste do forte. Consiste em paredes de xisto formando um ângulo obtuso que acompanha a curva do nível da colina e aterro em argila na parte externa. No lado interno há uma ampla plataforma escavada na rocha. Na junção dos dois braços, que forma um ângulo, há uma abertura que provavelmente corresponde a uma canhoneira. O seu estado de conservação parece ser médio, embora existam árvores e terra cobrindo as estruturas.


Em 2016 foi aberta uma sondagem transversal com 2m de largura e 1 m de largura tendo sido completamente desmontada para identificar o aparelho e técnicas de construção usadas na estrutura, para avaliar o estado de conservação da mesma e propor futuros trabalhos. Verificou-se que havia duas paredes exteriores no aterro contendo diferentes enchimentos, que formavam uma estrutura para amortecimento de balas disparadas contra a bateria. No entanto, estas duas paredes foram completamente desmontadas na área do levantamento, certamente para a utilização da pedra na atividade agrícola existente nas proximidades, sendo apenas percetíveis as suas fundações. As paredes identificadas e as estruturas desmontadas da bateria já estão reconstruídas na área de levantamento, sendo apenas esta área inclinada a ser reconstruída para proporcionar ao visitante um vislumbre do que seria a estrutura à data da reconstrução em 1801.

Em 2018 foi definida toda a parede interna da bateria e verificou-se que se tratava de uma estrutura fechada nas extremidades, com duas canhoneiras e um provável caminho de acesso ao forte a partir do lado sul. Em 2021, pretende-se dar continuidade a este trabalho, com o objetivo de escavar o aterro interno, identificar a localização do armazém de pólvora e confirmar a rota para o forte.

Campo 2 - Capela Velha do Peral (séculos XV a XVII)

Este tipo de monumento religioso, isolado, localizado no campo, a alguma distância de qualquer comunidade, e em ruínas, integra, a nível concelhio, um conjunto de outros sítios com as mesmas características como são os casos de Ervideira (Maxiais) dado como o lugar da antiga capela de São Pedro, o sítio O Santo (Alvito da Beira) tido como o lugar da antiga capela de São Lourenço ou o sítio do Espirito Santo (São Pedro do Esteval) dado como o lugar da Igreja Velha de São Pedro do Esteval (CNS 28172).

Objetivos:  São objetivos desta intervenção, a execução com base em sondagens arqueológicas manuais: (1) caraterizar o edificado associado ao antigo templo; (2) identificar e estudar do ponto de vista antropológico um conjunto limitado de enterramentos correspondentes à necrópole associada ao templo, que permitam entre outros aspetos balizar cronologicamente a sua utilização; (3) Consolidar as estruturas murárias em estado de ruína para garantir a sua conservação num contexto de valorização pública do sítio.

O sítio: O monumento foi identificado, enquanto sítio arqueológico, em 2017. Na altura, o lugar encontrava-se envolvido por pinhal e densa cobertura arbustiva. Na CMP 302, encontra- se assinalado como ruína, num ermo e sem outras construções por perto.

Ao longo dos últimos anos têm sido encontradas moedas nas imediações deste templo que vão, temporalmente, desde o final do séc. XV a 1724. Numa outra ocasião de trabalhos agrícolas “apareceu um esqueleto ainda com cabelo na cabeça” e no lado norte da capela-mor, a cerca de três metros da construção, umas grandes lajes de xisto.

 

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Campo 3 - Anta da Moita da Galinha

Sepultura megalítica com câmara poligonal de sete esteios, em rochas metassedimentares, e corredor. Foi identificada por Georg e Vera Leisner (1998). Está situada no topo de uma pequena elevação, entre uma mancha de eucaliptal e um caminho rural. O terreno situado a sul do caminho está ocupado com mato. Mamoa bem destacada acima do solo, embora muito afetada em quase todo o perímetro devido à instalação de um caminho cumeada, no lado sul, e à surriba para plantação de eucalipto, no lado norte. Tem cerca de 2,2m de altura, 13m de diâmetro na direção este-oeste e 11,3m de diâmetro na direção norte-sul. É constituída por argila amarelo-avermelhada e à superfície observam-se calhaus e blocos de rochas metassedimentares, parte dos quais com rolamento fluvial, e raros elementos de quartzo filoniano. Um dos esteios do lado norte está muito tombado para o interior da câmara. O corredor exibe três pequenos esteios alinhados no lado sul.

A câmara tem 2,4m de largura, mas essa medida está condicionada pelo enchimento atual. O corredor tem 3,2m de comprimento e o comprimento do conjunto câmara-corredor é de 5,3m. A primeira fotografia documenta uma vista atual a partir de sudoeste sendo patente a afetação da mamoa no lado sul. A segunda fotografia documenta a câmara funerária. A planta apresentada foi publicada por Vera Leisner (1998).

O objetivo desta campanha prendeu-se em salvaguardar o conhecimento acerca desta sepultura pré-histórica, integrável no conjunto megalítico das Moitas (Caninas et al., 2020a, 2020b; localização no Anexo 1), prevenindo (1) danos involuntários relacionados com o uso do solo e (2) eventuais danos que possam ocorrer em consequência do aumento da carga humana sobre este sítio, com a sua integração no percurso pedestre PR1 PN História na Paisagem.

 

Atividades CAPN 2021

Durante a Campanha de 2021 o Campo Arqueológico de Proença-a-Nova providenciou uma série de atividades lúdicas para os participantes.

Entre estas atividades destacam-se a Conferência "Cerâmica Moderna e Contemporânea. Estética, formas e funcionalidades", por Guilherme Cardoso e a Conferência "O Complexo Rupestre do Vale do Tejo", por Sara Garcês. 

No entanto, o CAPN também realizou uma visita de estudo ao Centro Ciência Viva da Floresta, ao Cabeço da Anta, à Aldeia da Figueira e a Vila Velha de Ródão, que incluío um passeio de barco pelas Portas de Ródão.

Durante o CAPN foi realizado a apresentação do livro "Proença-a-Nova Arqueologia e Património Construído" e realizado a atividade "Arqueólogo por um dia".

Conferência: Cerâmica Moderna e Contemporânea. Estética, formas e funcionalidades
Em virtude da organização do 10º Campo Arqueológico de Proença-a-Nova (CAPN) no dia 15 de Abril no Centro de Ciência Viva da Floresta, em Proença-a-Nova, pelas 16h, terá lugar a conferência "Cerâmica Moderna e Contemporânea: Estética, formas e funcionalidades", por Guilherme Cardoso - Doutorado pela Universidad de Extremadura, Cáceres, com a tese: Estudios Arqueológicos de la Villa Romana de Freiria - no âmbito 

A conferência pode ser visualizada através do seguinte: https://www.youtube.com/watch?v=Ry-kIFOaC8E

Resumo: "Nos finais do século XV, início da Idade Moderna, dá-se uma grande mudança nas mentalidades. A descoberta de novas rotas marítimas na direção da África Equatorial e posteriormente da Austral possibilitou o desenvolvimento do conhecimento, bem como, consequentemente, com a chegada ao Brasil, à Índia, à China e ao Japão.

 O contacto com outros povos, outras realidades, contribuiu para o fenómeno de miscigenação da qual emergiu uma cultura europeia mais rica de experiências e também de sabores. Observa-se o alterar dos gostos, a aceitação do exótico como prestigiante, desenvolvendo-se em simultâneo uma simplicidade funcional e individual nas cerâmicas do quotidiano em detrimento das de prestígio. Podemos falar de uma época de mundialização, através das trocas de conhecimento e informação, mas mantendo a “individualidade” de cada região.

Com a época Contemporânea aparecem novas modas, estéticas que se desenvolvem e expandem ao mesmo tempo por todas as partes do mundo conhecido. Podemos falar num processo de globalização mais abrangente, que se deveu ao grande desenvolvimento económico resultante da industrialização, a uma escala até ao momento nunca vista.

Observamos, assim, que as louças da época Moderna tinham inicialmente, quanto às técnicas de fabrico, características similares às produções medievais, no que concerne à cerâmica fosca. Será em relação, principalmente às faianças, que, na segunda metade do século XVIII se altera o paradigma económico e as louças regionais vão sendo substituídas por outras, produzidas maciçamente em fábricas, facto que as torna mais baratas, resultando numa democratização do consumo.

A ilustrar estas considerações, apresentam-se os exemplos concretos dos materiais recolhidos no poço dos Paços do Concelho de Torres Vedras, no poço do Vale de Alcântara, Lisboa, e no convento Dominicano de Montejunto."
Conferência: O Complexo Rupestre do Vale do Tejo
Em virtude da organização do 10º Campo Arqueológico de Proença-a-Nova (CAPN) no dia 21 de Julho em Vila Velha de Ródão, no  Barco Cruzeiro da empresa turística Vila Portuguesa pelas 18h, terá lugar a conferência "O Complexo Rupestre do Vale do Tejo", por Sara Garcês - licenciada em Arqueologia pela Universidade do Minho, Mestre em Arqueologia Pré-Histórica e Arte Rupestre pelo programa de Mestrado Internacional em Quaternário e Pré-História Erasmus Mundus do Instituto Politécnico de Tomar e Doutora em Quaternário, Materiais e Culturas pelo Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro com especialidade em Arte Pré-Histórica. Atualmente é Bolseira de Investigação pós-doutoral no Instituto Politécnico de Tomar, no âmbito do Centro de Geociências.
Resumo: O trabalho que aqui se apresenta, reviu de forma sistemática e atualizada o Complexo Rupestre do Vale do Tejo (CARVT), abarcando uma área de 120km de comprimento. Conta com 12 núcleos de arte rupestre que se estendem sensivelmente, desde a foz do rio Ocreza a jusante até ao vale do rio Erges, a montante. Estes núcleos comportam um conjunto de 1636 rochas com 6988 figuras de variadas tipologias, cuja cronologia se estende desde o Paleolítico Superior até ao final da Idade do Bronze grosso modo.  
O trabalho inclui a abordagem da história da investigação do CARVT, a contextualização das problemáticas e da região, a descrição analítica dos núcleos de gravuras e a sistematização dos temas com uma particular análise da figura do cervídeo como tema estruturante do CARVT.
O estudo é norteado por duas interrogações, uma de caráter fundamental: o que se pode inferir em termos de ocupação territorial e sequenciação temporal sobre o complexo rupestre do vale do Tejo, a partir da revisão exaustiva de toda a documentação disponível? Outra de caráter metodológico: em que pode diferir, em termos qualitativos, um estudo com tal preocupação de exaustividade, face a estudos centrados em sítios ou rochas de maior complexidade aparente e em argumentações de cariz essencialmente antropológico ou com recurso a contextualizações essencialmente suprarregionais?

 

Apresentação do livro "Proença-a-Nova Arqueologia e Património Construído"

O trabalho apresentado consiste numa análise da ocupação humana antiga no território que presentemente integra o município de Proença-a-Nova, durante um tempo longo que vai do Paleolítico à Época Contemporânea. O documento tem como fonte de informação principal os vestígios materiais deixados pelo homem, ao longo dos vários períodos históricos mencionados, visando conhecer a sua relação com o território e os recursos disponíveis ao longo do tempo. Outra finalidade, não menor que a anterior, é o de sustentar uma política de salvaguarda, de investigação, de divulgação e de usufruto desses sítios e bens culturais pela comunidade local e restante público interessado.

A monografia, que se pretende editar em julho de 2021, começa com uma caracterização do contexto geológico e geomorfológico que podem ter condicionado a ocupação humana do território ou o seu uso. Segue-se uma muito breve caracterização social do território, que ajuda a compreender algumas das manifestações materiais descritas, principalmente em épocas mais recentes. O capítulo seguinte é um historial, resumido, da investigação arqueológica no município de Proença-a-Nova com as suas principais etapas, os trabalhos efetuados e os seus protagonistas. Seguidamente, é abordada a evolução do povoamento no território municipal, desde a Pré-História Antiga à Época Portuguesa, suportada por mapas temáticos de sítios arqueológicos, por fases cronológicas, ilustrações diversas, fotografias, desenhos de materiais e estruturas. A narrativa diacrónica é complementada por uma tabela cronológica, um conteúdo geralmente ausente em trabalhos desta natureza.

A informação disponibilizada tem a intenção de proporcionar um conhecimento atualizado do estado de conservação do património inventariado, da identificação de áreas de maior sensibilidade e, paralelamente, uma adequada compreensão dos principais fatores responsáveis pela sua destruição. Também as instituições passarão a dispor de informação útil, acerca do seu património, de modo a poder incluí-la em instrumentos de planeamento e de gestão territorial. Perante a quantidade e a qualidade da informação recolhida, durante as últimas décadas, urgia reuni-la e divulgá-la. Cumpriu-se, deste modo, um desejo partilhado pela Associação de Estudos do Alto Tejo e pelo do Município de Proença-a-Nova.

No presente estado, a obra reúne já todos os conteúdos a que se propôs, devidamente formatados e paginados, estando prevista a sua publicação no dia 24 e julho de 2021. Em anexo segue um excerto correspondente às primeiras quinze páginas. A submissão desta candidatura advém da necessidade de obter fundos para a sua edição e tiragem.