Destruição de uma Mina de Oiro Romana

 

Em meados de Janeiro de 2021 a Associação de Estudos do Alto Tejo teve conhecimento da florestação do sítio da Cova da Moura de Fratel. Para confirmação da informação foi visitado o local poucos dias depois.


No local deparámos com a destruição do sítio arqueológico através da surriba para plantação de eucaliptos, tal como nos tinha sido comunicado. Os eucaliptos, pelo porte, devem ter sido plantados há dois ou três anos.

Esta área de elevada importância arqueológica consta no atual PDM de Vila Velha de Ródão, tal como já constava no anterior, com o nº 40 e está registado no Portal do Arqueólogo (Direção Geral do Património Cultural) com o Código Nacional de Sítio nº 2335. Esta identificação em importantes documentos de ordenamento e gestão patrimonial fazia pressupor que este sítio arqueológico beneficiaria de alguma proteção.


Como bem arqueológico foi identificada na segunda metade dos anos 70, por elementos da Associação de Estudos do Alto Tejo. O prof. Paulo Caratão Soromenho, com raízes em Fratel, no seu artigo Lendário Rodanense (1965) já dá o lugar como “mina explorada no tempo dos romanos”.


A área tinha sido eucaliptada, nos anos 80, em parcelas próximas da mina. Atualmente restava da mina, uma das suas entradas, o escorial resultante da trituração do quartzo, no qual nem vegetação nascia, e áreas em cotas inferiores, com elevado potencial de solo para escavação e caracterização da referida mina.


No espaço não intervencionado e na sua envolvência foram recolhidos bases de pilões para trituração de minério, em quartzito, cerâmica de tipologia diversa de que destacamos tégula de cronologia Alto Imperial (romana) e um fragmento de uma taça em terra sigillata hispânica.


Os responsáveis por este crime patrimonial devem ser responsabilizados criminalmente, simultaneamente devem arrancar as árvores plantadas e custear trabalhos arqueológicos tendo em vista a caracterização do sítio.


Constatamos que os documentos vigentes de proteção do património não são suficientemente eficazes, muito pela falta de identificação e fiscalização.


Este tipo de crime, destruição do património arqueológico, tem sido comum, no concelho de Ródão e noutros, associados quase sempre a projetos agroflorestais. Além dos proprietários são igualmente responsáveis os organismos que tutelam a floresta, a agricultura, o património e a própria autarquia.